sábado, fevereiro 12, 2005

Para Bush, Santo Daime é ameaça à 'War on Drugs'

Deu no site da BBC que o governo Bush, através do recém empossado Secretário de Justiça Alberto Gonzales (foto), novamente interferiu no vitorioso processo de legalização do uso ritual da ayahuasca promovido pelo Centro Beneficente União do Vegetal nos Estados Unidos (repetindo tentativa frustrada em dezembro último).

A chamada da matéria diz:
'O governo americano considera o chá do Santo Daime "um alucinógeno que altera o funcionamento da mente e ameaça causar danos irreparáveis aos esforços internacionais de combate ao tráfico de narcóticos transnacional”.'
BBC - Brasil.com - "Chá do Santo Daime 'ameaça combate ao narcotráfico', diz governo Bush"
O discurso acima acompanha o recurso apresentado no último dia 10/02 à Suprema Corte pelo Secretário de Justiça, numa nova tentativa do governo Bush em impedir que a UDV retome o calendário de rituais em sua sede americana, conforme decisões favoráveis obtidas em todas as instâncias judiciais por onde o processo transitou.

Destaque para a cara-de-pau do governo Bush em caracterizar uma manifestação legítima (a cultura ayahuasqueira) como interferência numa política concebida em gabinetes (War on Drugs), a qual que nunca se mostrou capaz em atender às demandas para a qual foi criada, ao mesmo tempo em que espalha efeitos colaterais nocivos em escala global. Interessante também como a mídia em geral costuma se referir ao Santo Daime quando está reportando sobre a União do Vegetal.

A batalha judicial da UDV vem se desenrolando desde 2001, e é capitaneada por seu representante nos EUA, Jeffrey Bronfman, herdeiro da família que controla a Seagrams -- famosa indústria de bebidas. Diz a lenda que o milionário devotou seu quinhão à causa ayahuasqueira, o que não deixa de configurar uma relação pitoresca entre ações e reações históricas relativas a proibicionismos de diferentes épocas.

Enquanto isso, as ondas da rede já apontam as consequências que o processo da udv está
causando em movimentos correlatos. Bush poderia estar certo no que diz respeito aos arranhões que a palavra forte dos ayahuasqueiros pode causar na retórica proibicionista.