quinta-feira, julho 28, 2005

Vem do sul o movimento 'Princípio Ativo'

Através do Thiago Ribeiro tive acesso a informações sobre as movimentações decorrentes das manifestações do último dia 07 de maio, no Rio Grande do Sul. Em resposta ao panfleto "a juventude não precisa de drogas", que ataca o DCE da UFGRS por ter abrigado o debate anti-proibicionista, os colegas gaúchos publicaram manifesto no qual são divulgadas duas novas instâncias do movimento anti-proibicionista nacional -- que não para de crescer: o Núcleo de Estudos sobre Psicotrópicos e o Movimento 'Princípio Ativo'. Ecoando a boa argumentação dos colegas do sul, a 'Ecologia Cognitiva' transcreve abaixo a apresentação e os princípios do Movimento 'Princípio Ativo':

"O movimento 'Princípio Ativo' considera que não existe “a droga” (um ente maligno e necessariamente nocivo à humanidade), mas sim “as drogas”: um amplo conjunto de substâncias, algumas lícitas e outras ilícitas (determinações estas que satisfazem interesses políticos e econômicos), e que não são, em si mesmas, portadoras de uma essência boa ou má. O movimento Princípio Ativo concorda que “a droga não é sinônimo de liberdade”, mas defende incondicionalmente o direito inalienável de gestão do indivíduo sobre seu próprio corpo, cabendo unicamente a ele, e não ao Estado ou a quem quer que seja, a decisão acerca do que ingere e consome. E justamente porque “os valores movimentados pelo narcotráfico perdem apenas para o petróleo e as armas”, é que o Princípio Ativo acredita na importância da discussão e da reflexão sobre a política de drogas em vigência no Brasil, na perspectiva de uma alteração radical no viés proibicionista, por crer que os danos causados pela proibição das drogas ultrapassam, em muito, os danos causados pelas próprias substâncias.

São princípios do movimento 'Princípio Ativo':
  • A defesa de uma nova política de drogas, não criminalizante, pautada no respeito aos direitos humanos e às liberdades individuais. Estrategicamente, o Princípio Ativo defende que a construção desta política deve seguir as seguintes etapas: descriminalização, regulamentação e legalização;

  • A luta pela legalização e pelo incentivo à pesquisa para uso medicinal da cannabis, inclusive como terapia de substituição (maconha entendida como "porta de saída" para o uso indevido de drogas mais pesadas);

  • Esclarecer a sociedade a respeito dos diversos "usos" não problemáticos de drogas (recreativo, terapêutico e religioso), e problemáticos, sendo que estes últimos devem ser considerados em uma perspectiva de saúde pública, e não criminal;

  • Informar a sociedade acerca das drogas e de seus usos, em uma perspectiva transdisciplinar, estimulando o debate público;

  • A luta pela garantia ao direito de tratamento especializado e gratuito a todos os usuários de drogas que assim o desejarem, com alternativas de tratamento que incluam a redução de danos associados ao uso de drogas, em conformidade com os princípios garantidos na lei 8080/90 (Lei do SUS);

  • A luta pelo direito constitucional de liberdade e de pertença do próprio corpo, com a liberdade de escolha para a alteração da consciência - pleno direito de livre expressão cultural, existencial, estética, religiosa, política e de uso e disposição sobre o próprio corpo;

  • Desenvolver atividades de controle, por parte da sociedade civil, sobre as instituições do Estado: fiscalização e denúncia de arbitrariedades, manifestação pública, pressão política e articulação de movimentos sociais, como meio de promover e garantir a transparência das políticas de drogas e a defesa dos direitos da pessoa usuária de drogas. "
Daqui, afirmando nossa sintonia,
desejamos todo o sucesso ao movimento!!
veja relato da participação do 'Princípio Ativo' em seminário com presança da SENAD
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sexta-feira, julho 08, 2005

Inaugurada a política oficial de redução de danos no Brasil (finalmente!!)

Foi publicado no Diário Oficial do último dia 04 de julho de 2005 a portaria Nº 1.028, de 1º de Julho de 2005, que "determina que as ações que visem à redução de danos sociais e à saúde, decorrentes do uso de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência, sejam reguladas por esta Portaria". Veja a cobertura da mídia.

É dia de comemoração para os militantes que tanto lutaram pela implementação das ações de redução de danos, e que vinham atuando informalmente há anos - sempre perseguidos pela repressão policial e pela acusação de estarem colaborando com o uso de drogas ilíticas. O texto da portaria institui respaldo para esta modalidade de ação enquadrando-a como política de saúde pública, e explicitamente declara que as ações de redução de dano não implicam, necessariamente, abstinência:
Art. 2º Definir que a redução de danos sociais e à saúde, decorrentes do uso de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência, desenvolva-se por meio de ações de saúde dirigidas a usuários ou a dependentes que não podem, não conseguem ou não querem interromper o referido uso, tendo como objetivo reduzir os riscos associados sem, necessariamente, intervir na oferta ou no consumo.
PORTARIA Nº 1.028/GM DE 1º DE JULHO DE 2005.
O texto da portaria ainda não menciona a criação de salas de uso controlado de drogas, mas o assunto ainda está sendo debatido por especialistas pois a estratégia é considerada fundamental por todos os setores que defendem a redução de danos. Segundo Pedro Gabriel Delgado, Coordenador Nacional de Políticas de Saúde Mental do Ministério da Saúde, "o ministério entende que as salas são uma estratégia correta, mas o assunto precisa ser mais discutido entre ministérios e com a sociedade".
"Sabemos que este é somente mais um passo para que a estratégia e as intervenções de redução de danos sejam contempladas como uma política pública que responde de forma integral ao fenômenos do uso de drogas na contemporaneidade. Mas sabemos que este é um passo muito importante, pois passa a ser regulada pelo campo da Saúde Pública, conforme determinação da lei 10.409/2002. Esperamos que a infinidade de resistências que temos observado nos últimos tempos dirigidos à redução de danos sejam agora minimizadas. Mas certamente ainda muito teremos que fazer."
Pedro Delgado - Coordenador Nacional de Políticas de Saúde Mental do Ministério da Saúde
A 'Ecologia Cognitiva' saúda este que é o primeiro passo do Governo Lula em direção à promessas de campanha que nós não podemos esquecer. Esperamos que mais ações estejam à caminho - estamos acompanhando atentamente.