O cantor Sting publicou esta semana um artigo no site Huffington Post ('Let's End the War on Drugs') onde conclama a sociedade, especialmente a norte-americana, a interromper a política global de guerra às drogas.
Sting conhece bem a possibilidade do uso positivo e socialmente integrado de substâncias psicoativas, pois teve contato o uso ritual da ayahuasca no Brasil. Seu artigo propõe uma atitude de coragem coletiva para reconhecer o fracasso absoluto do proibicionismo, e quebrar a inércia intolerável que caracteriza o cenário das políticas públicas dirigidas ao problema do abuso de drogas. Vale conferir os trechos traduzidos abaixo:
"Quer se trate da música que faço, do ativismo que realizo, ou em minha vida diária, procuro sempre estar atento aos desafios que a vida nos apresenta - quero estar pronto para inovar, sair da minha zona de conforto, explorando novas ideias.
Eu estou escrevendo agora sobre este tema porque acredito que os EUA devem fazer precisamente isso - e assim, portanto, devemos todos nós - no caso desta que tem sido a mais ineficiente, a mais injusta, e a mais inquestionável política global: a Guerra às Drogas.
Sabemos que a guerra contra as drogas fracassou - mas ainda é pior do que isso. A política segue prejudicando ativamente nossa sociedade. O crime violento prospera nas sombras onde o tráfico de drogas instala. As pessoas que realmente precisam de ajuda não podem obtê-la. Nem mesmo as pessoas que precisam da canabis medicinal para o tratamento de doenças terríveis. Estamos gastando bilhões, enchendo nossas prisões de criminosos não violentos e sacrificando nossas liberdades.
Por muito tempo, a guerra contra as drogas tem sido um compromisso sagrado praticamente imune a críticas na esfera pública. Os políticos não se atreviam a discordar por medo de serem estigmatizados como sendo "suaves contra o crime." Todos os ativistas do tema foram durante muito tempo considerados párias da sociedade.
Mas, recentemente, eu descobri o quanto isso está mudando - e é por isso que eu vim falar em nome de uma organização extraordinária chamada Drug Policy Alliance.
Eu conheci a DPA ao ler, no local mais improvável, uma discussão ponderada sobre a guerra às drogas - a página editorial do Wall Street Journal.
Ali havia um artigo de opinião que se atreveu a declarar com todas letras - através de uma tese meticulosa e bem fundamentada - o que todos aqueles que olharam seriamente a questão já sabem há anos: a guerra contra as drogas é um fracasso absoluto, e seu custo para a sociedade é cada vez mais intolerável, algo absolutamente injustificável de continuar ocorrendo no século 21.
O artigo que impressionou Sting é de Ethan Nadelmann, diretor da DPA. É marcante sua comparação de nosso momento atual em relação à guerra às drogas com o que aconteceu durante a lei seca nos EUA, especialmente em 1933 -- que é quando a maioria dos americanos passou a culpar a proibição ao consumo do álcool pelas convulsões sociais e o expansão do crime organizado que caracterizou o período.
"Quando a revogação veio, não foi apenas com o apoio das pessoas que gostavam de usar álcool, mas também daqueles que não gostavam, e até mesmo o odiavam, mas não podiam mais ignorar as terríveis consequências de uma política de proibição que falhou em alcançar seus objetivos. Eles viram que a maioria dos americanos ainda não conseguem ver hoje: que uma política fracassada de proibição pode causar dano maior do que a própria droga a qual era destinada a banir.
Considere as conseqüências da proibição das drogas hoje: 500.000 pessoas encarceradas em prisões e cadeias norte-americanas por 'crimes' não-violentos da legislação antidrogas; 1,8 milhões apreensões de drogas no ano passado, dezenas de bilhões de dólares dos contribuintes gastos anualmente para financiar uma guerra contra as drogas que 76% dos americanos dizem que falhou; milhões agora marcados vida à fora como criminosos; muitos milhares morrem a cada ano de overdose de drogas que estão mais relacionadas às políticas proibicionistas do que com as drogas em si, e dezenas de milhares infectados com Aids e Hepatite C, porque estas mesmas políticas bloqueiam as ações de redução de danos das políticas de saúde pública."Nadelmann em 2008 achava que a maioria ainda não estava enxergando a realidade. Estamos em 2010, e de minha parte aposto que estamos chegando no 'tipping point' para virar este jogo. De toda forma, vale para o momento a mesma estratégia que o diretor do DPA desenhou para ãquele momento:
Let's end drug prohibition - The Wall Street Journal
"...há uma coisa que podemos fazer: promover um debate vigoroso e esclarecido, que valorize os diversos pontos de vista envolvidos, pois o pior da proibição é a censura ao pensamento".
"Todo mundo sabe que a Guerra às Drogas fracassou. É hora de sair da nossa zona de conforto, de reconhecer a verdade - e desafiar os nossos dirigentes ... e de nós mesmos ... à mudança."
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