segunda-feira, dezembro 26, 2005

Evo Morales eleito na Bolivia: revalorizando a folha de coca

O significado essencial do resultado da eleição boliviana não se refere diretamente à figura de Evo Morales (foto). O personagem principal deste fato histórico são os eleitores deste país sulamericano, e os motivos que os levaram a expressar esta opção. Evo representa uma alternativa a um sistema que há muito vem sendo dominado por estrangeiros, simbolizando esperança e mudança, e revelando a potência do auto-determinismo das populações indígenas em retomar a soberania de seu país.

É possível que as propostas de Evo Morales, assim como ocorreu com Lula no Brasil, não correspondam às expectativas de seu eleitorado, e grande é a probabilidade que a reforma da lei dos hidrocarbonos e a descriminalização da coca sejam objetivos difíceis de realizar no curto e médio prazo, mas sua ascendência à presidência representa algo até então inimaginável para a maioria da população indígena e pobre deste país, e por si já é um grande diferencial.

Neste momento os EUA mantém uma certa indefinição em relação à ascensão de Morales na Bolívia, e é certo que existe o temor de que uma oposição agora possa gerar maior apoio local (como ocorrido em 2002). Mas a proposta de reavaliação da folha de coca à nível internacional é mais um tiro na lógica da combalida política de guerra às drogas (assim como o caso da ayahuasca, em julgamento na Suprema Corte), e não deve ser aceita facilmente pelos americanos. Na Convenção da ONU de 1961, ocorrida em Nova York, a folha de coca (mero estimulante) foi equiparada à cocaína, por pressão norte-americana. Esse grosseiro erro persiste. A meta era equiparar para exterminar, como se fosse possível passar como trator por uma cultura milenar. Vale acompanhar o caso para identificar os próximos movimentos.

Em entrevista à BBC.mundo, Evo Morales explicitou sua posição na questão da revalorização internacional da cultura e da produção da folha de coca -- trecho transcrito abaixo. Vale checar também a entrevista do vice-presidente eleito, Álvaro Linera.
Usted basó su campaña en la producción o en la libertad de tener los cultivos de la hoja de coca. ¿Cuál es el final de su propuesta sobre este tema?

Hay que racionalizar la producción de la hoja de coca. Hicimos un estudio sobre la industrialización de la hoja de coca. Hasta ahora, hemos logrado con muchas investigaciones obtener conocimientos científicos sobre la hoja de coca.

Vamos a sostener esto y si se quiere ampliar la producción entonces tendremos que hacer estudios al respecto.

Muchos temen que estas hojas de coca terminen en la elaboración de la cocaína. ¿Cómo se puede controlar esto?

Es legal la coca en Bolivia, lamentablemente es legal para la Coca Cola pero no es para que la zona andina la envíe al exterior. No estamos hablando de un libre cultivo de la coca, sino del huerto de 40 metros cuadrados. Esta es una forma de racionalizar la producción.

Nosotros creemos que la hoja de coca debe retirarse de la lista de venenos de Naciones Unidas, hay investigaciones de la Organización Mundial de la Salud que demuestran que la hoja no es veneno y más bien es beneficioso para el ser humano. Por ello no puede seguir siendo parte de la lista de venenos de la ONU.

¿Señor Morales, pero en este momento hay un consumo tan grande en su país como para que se legalice un consumo interno tan voluminoso?

Está legalizada la coca en Bolivia, ¿Quién dice que está penalizada? Estoy hablando de la comunidad internacional, y repito, no es posible que sea legal la coca para la Coca Cola e ilegal para la comunidad andina. Hay que revalorizar la hoja.

Dicen que la coca fue retirada de la fórmula de la Coca Cola desde 1929.

¿Pero quién compra en Estados Unidos la coca de Bolivia o Perú? Con pretextos, hace cuatro años atrás todavía seguían comprando la hoja. Si ya retiraron este ingrediente de la Coca Cola ¿entonces para qué siguen comprando? Su pretexto debe ser con otros fines. Imagínese entonces como el gobierno estadounidense compra la coca pero con otros fines.

Sobre o tema, ouça também a conferência (arquivo mp3) do Prof. Anthony Henman: "Política de redução de danos frente à coca e seus derivados"