quarta-feira, julho 04, 2007

Em favor da Redução de Danos

Muito interessante o editorial da Folha sobre a ridícula atitude da FAPESP em, cedendo a pressões, suspender o projeto das professoras Maria Tereza Araújo e Stella Pereira de Almeida:
"O projeto consiste em levantamento sobre o universo dos usuários de ecstasy, seguido de intervenção com distribuição de folhetos informativos (flyers) em locais freqüentados pela população-alvo e de uma avaliação dessa intervenção. Os flyers contêm informações sobre riscos do ecstasy e recomendações para reduzi-los."
O Caso Ecstasy 2 - Luis Nassif Online

Folha de São Paulo - Editorial - 03/07/2007

É CONTRA si mesma que a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) depõe ao suspender financiamento de estudo sobre redução de danos com ecstasy, após ataques pela imprensa. Alguns criticaram o fato de as pesquisadoras não terem condenado o uso da droga ilícita -limitaram-se a sugerir aos usuários certas cautelas na sua ingestão.

Ou bem a agência errou ao patrocinar um projeto que era ruim desde o início, ou erra agora ao cortar de modo abrupto as verbas com base em opiniões de leigos emitidas de fora da Fapesp.

Não é assim que a ciência deve funcionar. Se dependesse do que pensavam seus pares, Copérnico não teria postulado o modelo heliocêntrico. Se dependesse da "vox populi", dinheiro público dificilmente seria destinado a áreas como a física de partículas, que demandam recursos vultosos e cuja "utilidade" é difícil explicar até para iniciados.

Para evitar essas dificuldades se criaram agências como a Fapesp, cuja missão é proceder a uma avaliação autônoma e técnica de cada projeto apresentado e decidir se vai ou não financiá-lo. Estudos equivocados devem ser suspensos, mas é preciso que o erro seja atestado pelo próprio sistema de avaliação "inter pares" da agência, seguindo os melhores protocolos internacionais, e não pelo clamor público.

O conceito de redução de danos é difícil de assimilar. Para alguns, sempre soará como chancela oficial às drogas. Do ponto de vista da saúde pública, no entanto, trata-se de reconhecer a complexidade da dependência -e a relativa intratabilidade em certas fases- e tentar evitar os impactos mais deletérios.

É uma estratégia que tem o aval da OMS, do Ministério da Saúde, é utilizada em países como Holanda, Reino Unido e Canadá e já se provou útil, por aqui, para reduzir a incidência de infecções pelo vírus da Aids.